Se você não gosta de coisa subversiva como o Evangelho de Jesus
Cristo e os documentos teológicos da IECLB é melhor não ler este texto.
Quo vadis IECLB?
Tenho falado muito sobre o assunto a seguir, mas como a
realidade ainda não mudou o retomo.
Neste texto falo de algo totalmente subversivo e altamente
perigoso que está engavetado: os documentos teológicos oficiais da IECLB.
Você não precisa concordar com minha análise, mas olhe para
ela a partir dos campos em que você já atuou no passado e do atual e a partir
da realidade dos colegas de seu sínodo; ouça o que eles dizem e compare esta
análise com a sua. O que precisamos é abrir uma porta de diálogo a partir de
nossas diferenças e semelhanças pelo bem do Evangelho e da Igreja de Jesus
Cristo no Brasil e olhe para todos os fatos de diversos ângulos; analise a
palestra do Nelso Weingärtner feita na 1ª Convenção Nacional (que foi feita a
partir de pesquisa entre colegas) e por fim construa a sua análise.
Às vezes as pessoas pensam que estou baixando o pau nas
pessoas com cargos eletivos da Igreja, não estou. Apenas procuro tentar fazer
uma análise da realidade da Igreja para entender o seu processo de constituição
e funcionamento para que a Igreja possa ser o mais fiel possível ao Evangelho
de Jesus Cristo. As pessoas da administração e de cargos eletivos quando
assumiram já herdaram “os pecados estruturais da Igreja” e estes pecados são de
todos nós; importa saber quais são, como se constituem e como combatê-los. Se
alguém se ofender com minhas análises, lamento, mas está equivocado em sua
reação, pois precisamos conhecer bem a nossa realidade eclesial e a realidade
brasileira para podermos da melhor forma desempenhar nossa missão de anunciar o
Evangelho do Reino de Deus ao povo brasileiro. Se não conhecemos a nossa
realidade vamos se ineficazes na execução de nossa missão evangelizadora. Nosso
inimigo é o capitalismo, como fala o Manifesto Chapada dos Guimarães, que
também se inseriu na dinâmica da Igreja e deve ser combatido em todas as
frentes, pois ele quer dar a linha teológica na e da Igreja, mas quem dá a
linha teológica da Igreja é o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, o
Servo, que constrói o seu Reino a partir das vítimas do sistema deste mundo,
como nos lembra Paulo em 1 Co e os próprios Evangelhos.
Vejo no Movimento Popular, aqui no caso o MST e também o MAB
e outros, coisas semelhantes à primeira comunidade cristã. Um dirigente
liberado do MST de SC recebe 1 SM ao mês como ajuda de custo e outros liberados
recebem de ajuda de custo menos que isto e normalmente todos recebem esta ajuda
de custo um mês sim outro não pelo simples fato de não haver dinheiro
disponível. Este doar-se à causa da Reforma Agrária (que faz parte da causa do
Reino de Deus) lembra as lutas dos primeiros cristãos na formação de novas
comunidades para viabilizar a construção desta nova sociedade de iguais que é o
Reino de Deus. São os apóstolos e apóstolas de hoje na luta por uma nova
sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Isto lembra o apóstolo Paulo
que fabricava tendas para sobreviver enquanto percorria as cidades do Império
Romano. Em At 24 nos é dito que o mundo o via como
uma séria ameaça ao status quo (o Evangelho do Reino de Deus sempre é uma
ameaça ao status quo ou deixa de ser Evangelho de Jesu Cristo, conceito que na
Igreja me parece que anda meio esquecido): 5 “Porque,
tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os
judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita
dos nazarenos, 6 o qual também tentou profanar o templo
nós o prendemos [com o intuito de julgá-lo segundo a nossa lei”.
Esta é a essência do Evangelho do Reino de Deus: a
insurgência revolucionária permanente frente o sistema deste mundo, no tempo de
Paulo e de Jesus Cristo o Modo de Produção Escravista e hoje o Modo de Produção
Capitalista. Para o MST a luta pela Reforma Agrária faz parte da luta maior
contra o Capitalismo no intuito de participar da construção de uma nova
sociedade igualitária que Marx chamou de Comunismo, o povo andino chama de
Sumak Kawsay, o povo guarani chama de Terra sem Males, muitos povos africanos
chamam de Ubuntu e os cristãos chamam de Reino de Deus. É tudo igual? Não, os
conceitos não são todos iguais, mas o sonho por uma nova sociedade onde todas as
pessoas tem o controle dos meios de produção e são irmãs e onde a natureza não
é mera mercadoria é igual.
Paulo fala disto em Rm 8.22 “Porque sabemos que toda
a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. 23 E
não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente
gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso
corpo. 24 Porque, na esperança, fomos salvos. Ora,
esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o
aguardamos”.
O que é igual é o espírito insurgente e revolucionário que
perpassa o Evangelho do Reino de Deus e as práticas teóricas dos movimentos
revolucionários da classe trabalhadora e dos povos originários.
Eu adoto a concepção de Reino de Deus que o Frei Betto uma
ver falou nos anos 80 em Chapecó, eu só mudei o desenho num esquema onde as esferas
se interligam; se você está numa destas esferas você está participando da
construção do Reino de Deus:
A Igreja que não participa das lutas do Movimento Popular,
Sindical e dos Partidos Políticos de Esquerda nunca vai compreender a
radicalidade insurgente e revolucionária do Evangelho do Reino de Deus e da
Cruz de Cristo (Lc 23.2,5: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação,
vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei. Ele alvoroça
o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui.).
Igreja não inserida nas lutas do povo explorado tem poucas condições de pregar
livre e retamente o Evangelho de Jesus Cristo, pois está atrelada aos que
dirigem a comunidade/paróquia que normalmente são da pequena burguesia
conservadora da cidade que representa o capital: ACI, CDL, Sindicato Rural,
Maçonaria, cooperativas do agronegócio. Ou a Igreja rompe com esta direção ou
continua vendendo o Evangelho, mesmo que inconscientemente. Igreja que não faz
análise constante da conjuntura da sociedade e da própria prática eclesial
dificilmente vai acertar a sua ação missionária. Quem erra na análise (ou não a
faz) erra na prática, acertar por sorte ou intuição é difícil. Por que a Igreja
não faz análise de estrutura e conjuntura do capitalismo? Porque isto escandalizaria
profundamente a pequena burguesia que manda nas paróquias que defende o
capitalismo como única forma de organizar a vida e a sociedade (esquecendo que
o Evangelho propõe o Reino de Deus como a outra forma de organizar a vida e a
sociedade), pois se descobriria como acontece a exploração sob o capitalismo e
quem explora quem e como acontece esta exploração e que o capitalismo vai
acabar com a existência da humanidade se seguir no ritmo atual.
Não é toda pequena burguesia que é reacionária. Tenho experiência
de pessoas que são da pequena burguesia e eram da direção da comunidade e da
paróquia e que tinham uma enorme abertura às lutas do povo explorado e que não
tentavam podar a pregação pura e reta do Evangelho, pelo contrário procuravam
garantir a livre pregação do Evangelho e sofriam pressão do setor reacionário
da pequena burguesia, mas não podavam a pregação e prática eclesial com o
Movimento Popular. Não dá para jogar todo mundo no mesmo saco. Sempre há
exceções, que infelizmente são exceções. Estas exceções mostram que há formas
de resistir de forma organizada nas paróquias, mas para isto precisamos de uma
constante análise da conjuntura local e nacional, tanto eclesial como social e
de uma boa proposta e prática de formação teológica com o povo. A função da
Direção da Igreja é possibilitar este espaço organizado de resistência nas
paróquias para que a pregação do Evangelho siga livre. No entanto, não tenho
visto a Direção da Igreja ter esta clareza, pelo contrário ela vive na ilusão
ingênua de que não existe luta de classes, nem confronto ideológico de classes
na Igreja e que a pastorada não tem medo e insegurança nenhuma. Esta visão e
postura tem ajudado enormemente os interesses do capital, que, como diz o
Manifesto Chapada dos Guimarães, não é coisa de Deus.
“Conforme o testemunho bíblico e
o Reformador Martim Lutero, a fé jamais ficará ociosa. Por conseguinte, os
cristãos de confissão luterana são chamados a:
Renegar a ideologia que dá
suporte à acumulação e concentração de riqueza em benefício de minorias e em
detrimento do atendimento das necessidades básicas do ser humano e da
manutenção da boa criação de Deus.
Renegar a adoração do capital e
da religião do consumo como definidora do sentido da vida.
Renegar modelos econômicos que
desconsideram a necessidade e urgência de um desenvolvimento auto-sustentável
que preserva a vida no planeta.
Renegar todas as formas de individualismo voltado
tão-somente para a auto-satisfação, desconsiderando a importância das relações
coletivas e comunitárias, bem como o serviço mútuo e a solidariedade.” Manifesto
Chapada dos Guimarães.
Tenho a impressão que o medo que permeia a Igreja também
chegou à Direção da Igreja que como a pastorada nas paróquias está com medo da
reação da pequena burguesia, que normalmente controla a direção das paróquias,
e por isso não se arrisca a fazer uma análise realista da realidade nacional e
eclesial. Faz-se de conta que vivemos num mundo eclesial em total harmonia e num
mundo harmonioso. Igreja medrosa nunca vai ser missionária; Igreja que só
consegue olhar para seu próprio umbigo nunca vai ser missionária. Basta ler o
JorEv Luterano para ver como anda a prática e a teologia da IECLB; uma teologia
umbelical introvertida. A Igreja tem que clarear e enfrentar suas contradições
internas e teológicas como também de classe para sair da inanição. Não adianta
negar-se a fazer uma leitura realista da realidade porque haverá a acusação de
comunista. A melhor leitura da realidade é a descoberta feita por Marx. Não se
precisa ser comunista para reconhecer isto.
No Prefácio à
"Contribuição à Crítica da Economia Política" Marx diz:
“O resultado
geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus
estudos, pode resumir-se assim: na produção social da sua vida, as pessoas
contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade,
relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento
das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção
forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a
superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de
consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo
da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência da pessoa
que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina
a sua consciência. Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as
forças produtivas materiais da sociedade se chocam com as relações de produção
existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de
propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali. De formas de
desenvolvimento das forças produtivas, estas relações se convertem em
obstáculos a elas. E se abre, assim, uma época de revolução social. Ao mudar a
base econômica, revoluciona-se, mais ou menos rapidamente, toda a imensa
superestrutura erigida sobre ela. Quando se estudam essas revoluções é preciso
distinguir sempre entre as mudanças materiais ocorridas nas condições
econômicas de produção e que podem ser apreciadas com a exatidão própria das
ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, numa palavra, as formas ideológicas em que os homens adquirem
consciência desse conflito e lutam para resolvê-lo. E do mesmo modo que não
podemos julgar um indivíduo pelo que ele pensa de si mesmo, não podemos
tampouco julgar estas épocas de revolução pela sua consciência, mas, pelo
contrário, é necessário explicar esta consciência pelas contradições da vida
material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as
relações de produção. Nenhuma formação social desaparece antes que se
desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e jamais aparecem
relações de produção novas e mais altas antes de amadurecerem no seio da
própria sociedade antiga as condições materiais para a sua existência.”
O que sustenta a
vida da sociedade é a materialidade da sociedade (a sua produção material); a
ideologia (o pensamento, a idéia) vem da materialidade, diz Marx. A
materialidade do capital e sua dinâmica determinam a teologia na Igreja via
pequena burguesia, isto tem que ser denunciado e enfrentado com a teologia da
IECLB para construir outra prática comunitária inserida nas lutas do povo
brasileiro. Temos que clarear a teologia oficial da IECLB nas comunidades
estudando-a para combater o capital e sua teologia.
Esta é uma
leitura a partir da base real da sociedade que é a sua produção material e
sobre a qual se constroem as demais relações. Qual a teologia da pequena
burguesia que manda na paróquia? Ela está baseada na produção material de nossa
sociedade construída em cima da exploração de classe, por isso a comunidade não
permite que se questione o capitalismo. A prática da vida material da pequena
burguesia quer determinar a teologia da Igreja para que esta legitime a sua
prática da vida material, que é a produção de mercadorias baseada na exploração
de classe. Com isto quero dizer que Marx tem razão em sua leitura do mundo: “O
conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade,
a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à
qual correspondem determinadas formas de consciência social”. Como Jesus Cristo
fez a sua análise da realidade do povo que ele veio para libertar? Leu a
realidade a partir da história de seu povo, a partir das denúncias proféticas,
para ler a realidade de seu tempo, dizendo, segundo Lucas 4:
17 Então, lhe deram o livro
do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito:
18 O Espírito do Senhor
está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para
proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em
liberdade os oprimidos,
19 e apregoar o ano
aceitável do Senhor.
Em Mc 6.34 Ao
desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram
como ovelhas que não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas.
Jesus parte da compaixão e da indignação em relação à exploração e
opressão em que o povo vivia. As comunidades da IECLB conseguem ter compaixão e
se indignar frente a realidade dos sem terra, dos povos indígenas, das remoções
de vilas interiras para abrigar os projetos da Copa, dos atingidos por
barragens para o capital se multiplicar à custa da miséria do povo? Para saber
isto é só perguntar se a comunidade cede os seus espaços físicos para estes se
reunir e saberás a quantas anda a compaixão e a indignação de nossas
comunidades. No máximo elas se indignam contra as vítimas do sistema xingando-as
de preguiçosas em vez de se indignar contra o que cria as vítimas. Falo disto
num texto que podes acessar em http://comocalaravoz.blogspot.com.br/2013/10/comunidade-de-jesus-cristo.html. Lembro de
um fato que me foi contado que numa comunidade do Nordeste havia umas 8
famílias não arianas que eram membros da IECLB e que moravam na favela, mas já
há mais de dez anos eram membros da comunidade e participavam da vida da
comunidade. E numa celebração de advento as 8 famílias estavam presentes e uma
moça teve que ir ao banheiro que estava ao lado da cozinha e ela ouviu a mulher
do pastor dizer o que estes negros e pobres favelados queriam nesta festa de
advento, pois nem convidados foram. A moça contou isto à estas famílias e elas
se levantaram e disseram o que houve e se retiraram em protesto e ninguém foi
atrás para pedir perdão ou para visitá-las no futuro. Simplesmente foram
excluídas. Não ariano, pobre e favelado na comunidade da IECLB já é demais! Eu
lembro que em 1988 ao visitar o assentamento em Itaiópolis, SC, levei uma
família luterana assentada lá para a casa do pastor de Taió conhecer, cuja
paróquia era próxima ao assentamento uns 30 Km, e lhe disse que havia mais 12
famílias luteranas lá, que o estavam convidando para visitá-las e que ele
poderia ali formar uma comunidade da IECLB. Ele nunca apareceu lá, simplesmente
ignorou estas famílias por serem assentadas e empobrecidas. Algumas destas
famílias foram para a IELB e as outras se tornaram católicas. Isto que o seu
Movimento vive destacando a missão como algo prioritário.
Qual era a realidade material sobre a qual Jesus Cristo faz
a sua leitura? Uma sociedade produtora que está empobrecida (devido a
exploração econômica e da concentração da terra e a exploração dos tributos do
Templo e de Roma), está cativa (prisioneira – não tem independência e nem
liberdade - e escravizada fisicamente), está doente e ideologicamente cega por
causa da opressão e exploração, há a necessidade de libertar os oprimidos (que
é todo povo debaixo do imperialismo romano e oprimido pela exploração econômica
e religiosa) e finalmente fazer a Reforma Agrária (no dizer de hoje) para ser
fiel ao Lv 25. Este é o Programa do Evangelho Reino de Deus para revolucionar o
reino do mundo. Isto começa segundo Mc 1.15 com arrependimento (conversão
individual e coletiva) e fé no Evangelho do Reino de Deus, em oposição ao
evangelho romano. Dentro deste contexto Jesus Cristo mostra que é fundamental
uma abertura à todos os povos explorados e oprimidos para construir a revolução
permanente do Reino de Deus, por isso conta o exemplo do estrangeiro Naamã e da viúva de Sarepta de Sidom. A
revolução do Reino de Deus é universal e começa com as pessoas enfraquecidas e
ainda por cima estrangeiras, não consideradas do povo eleito (Javé não começa
por um povo [uma etnia], mas pela mediação de classe: as classes exploradas
pelo modo de produção vigente) que segundo o texto são a viúva e o doente, que
são os mais frágeis entre os oprimidos. Ao estar doente o general Naamã é uma
pessoa fragilizada. Com isto Jesus Cristo está apontando para aconversão
interna da “Religião” junto com a conversão do mundo político, econômico,
cultural. A ‘religião’ que não tem misericórdia com os fragilizados é opressora
não serve para participar da construção coletiva do Reino de Deus. Isto nos
remete à conversão da Igreja (que não consegue ser como Mt 25 requer, pois não
consegue acolher as vítimas do sistema econômico explorador) e da Sociedade que
está construída em cima da exploração econômica e legitimada pela religião.
Vivemos esta contradição na IECLB: uma Igreja com uma esmagadora massa de
membros explorados pelo capitalismo, pois 83% da população economicamente ativa
no Brasil recebe até 3 SM – quer dizer é pobre, pois não atinge o salário digno
necessário segundo o DIEESE -, e o nosso povo está nesta realidade e não fora
dela. Olham o fichario das comunidades e analisem membro por membro para ver
quantos pertencem à classe trabalhadora (são assalariados ou autônomos),
quantos são da pequena burguesia (classe média baixa e média) e quantos são
ricos (lembrando que para ser rico no Brasil tem que se ter 1 milhão de dólares
aplicados no sistema financeiro, ter uma casa e carro no valor de meio milhão
de reais e ter uma renda mensal de 70 a 80 mil reais, pois muito pequeno
agricultor com 40 ha de terra se considera rico).
Na exegese bíblica usamos as descobertas da arqueologia, da
linguística, da história, da literatura, da geografia, também temos que usar as
descobertas da economia política, caso contrário corremos o risco de não
entender bem as Escrituras e nem vamos conseguir interpretá-las corretamente
para a realidade de hoje. Não se precisa ser comunista para entender que o
capitalismo não é coisa de Deus, basta partir do próprio Evangelho para entender
isto. Jesus Cristo foi enviado para construir o Reino de Deus e não o reino do
mundo (Lc 4.43; 8.1), mas na Igreja normalmente a pequena burguesia que
controla o poder na paróquia quer que a pregação do Evangelho não denuncie o
reino do mundo como algo que não é de Deus. A própria instituição não garante a
liberdade de pregação aos pastores e pastoras pelos mecanismos legais de
controle viabilizados pelo TAM e pela Avaliação que são intimidadoras. No
Sínodo Uruguai uma pessoa do Conselho Sinodal afirmou (e não foi contestada
pelo Conselho Sinodal presente) que o Conselho Sinodal não garante a livre e
pura pregação do Evangelho, isto está por conta e risco de cada pastor/a. O
Conselho Sinodal é a instância diretiva máxima, abaixo da Assembleia Sinodal,
no Sínodo; é a Direção da IECLB no Sínodo. Se esta não garante e dá a
sustentação para que aconteça a pregação livre e pura do Evangelho quem o fará?
Não pregou o que interessa à pequena burguesia (defensora do capital, mesmo
sendo devorado por ele pelo capital internacional) não terá o TAM renovado e
terá Avaliação negativa e portanto terá de procurar outra paróquia para
trabalhar, se encontrar e talvez tenha sorte e será reenviado para a nossa
“Sibéria” onde poucos querem ir. Esta é a incerteza institucional que impede a
Igreja de ser missionária, pois reduz o conceito de missão e de diaconia ao
mero atendimento pastoral interno aos membros da IECLB. Ainda não nos livramos
do fantasma do ser igreja de 1824: enviar pastores para as comunidades para
atender os luteranos alemães. Isto reduz o conceito teológico missionário da
Igreja que por isso não questiona a realidade envolvente que precisa ser
transformada a partir do Evangelho insurgente e revolucionário permanente do
Reino de Deus que requer uma nova ordem social, política, cultural e econômica
para que as pessoas possam ser irmãs e iguais. Isto é uma exigência do
Evangelho de Jesus Cristo antes mesmo de ter qualquer vínculo com o marxismo.
Não precisamos ser marxistas para sermos revolucionários, basta assumirmos a
radicalidade de nosso batismo reforçado pela Ceia do Senhor.
"Os antigos [pais da Igreja]
disseram muito bem: ele [Jesus Cristo] não quis instituir o Sacramento [do
Altar], a fim de que [somente] o coração o recebesse espiritualmente, e, sim,
para que também [fosse recebido] corporalmente pela boca. Por isso, corpo e
sangue de Cristo não deverão apenas redimir a esta [a alma] dos pecados, e,
sim, também o corpo, no qual ainda existe muita imundície, a saber, pecado,
morte. ... Desse modo ele [Jesus Cristo] dá alimento, para que [a pessoa
inteira] seja alimentada pelo [via] corpo, para que não [fosse alimentada]
apenas a alma, e, sim, o corpo, porque aqui nosso corpo participa do corpo de
Cristo ... . No dia derradeiro, o que o verbo derradeiro operou e o que o
corpo e o sangue [de Jesus Cristo] operaram será operado também em meu corpo:
força e vida, pureza, vida, e bem-aventurança, e o ser humano então se alegrará
muito em Deus. Isso
sucede em virtude do corpo e sangue de Cristo, quando o coração está alegre no
Senhor ... então o corpo sente a alegria do coração - e transborda. Se isso
ocorre a partir do corpo e do sangue de Cristo, o corpo [da pessoa que crê e
comunga] já é meio espiritual, está renovado e livre da morte. Aí [a renovação,
a libertação da morte] toma seu começo... . Por isso se deve gostar de falar
disso como de uma outra medicina contra a morte e o pecado, contra a [morte] da
alma e do corpo." Martim Lutero, D. Martin Luthers Werke - kritische
Gesamtausgabe. 45 [1911/1964], 202.5-19.
O que temos atualmente na Igreja é a ditadura da pequena
burguesia que usa dos instrumentos legais de repressão – TAM e Avaliação - para
impor sua teologia: a teologia do deus capital. Isto tudo aliado à ingenuidade
de boa parte da pastorada que normalmente não aprendeu a ler a realidade
envolvente, pois isto não faz parte do estudo de teologia, em prejuízo do
Evangelho. Somos enviados para proclamar o Evangelho insurgente e revolucionário
de Jesus Cristo para dentro de um mundo que não conhecemos e nem entendemos e
com isto estamos sujeitos a quem sabe o que quer, que manda nas paróquias: a
pequena burguesia intransigentemente (com suas devida exceções) defensora do
capital que exige que o Evangelho se adapte às suas dinâmicas. Por isso sonegar
parte do Dízimo não é problema para parte desta pequena burguesia, pois no
capitalismo não há ética. Por que haveria ética na Igreja se no capitalismo não
a há? Como a pastorada em sua maioria não sabe qual é a dinâmica do capital
acaba lendo um textinho e depois conta uma estorinha e fica apenas na conversa
da conversão individual sem um compromisso de participar do processo coletivo
da construção do Reino de Deus que se opõe ao reino do mundo, o capitalismo.
Quem não se enquadra é enquadrado pela dinâmica repressora institucional.
Quanto mais fraca for a formação teológica da pastorada,
quanto mais fraca for a organização da pastorada e quanto maior for a divisão
entre a pastorada, melhor para a pequena burguesia que normalmente controla o
poder na paróquia. Temos o Encontrão fragilizado e dividido, temos a PPL
fragilizada e a esquerda atomizada, temos a Comunhão Martim Lutero reduzida a
um espaço geográfico restrito ao leste catarinense, a APPI em processo de
reconstrução, portanto ainda fragilizada, temos as COs esvaziadas de poder
político e de diálogo teológico e um medo paralisante reinando no meio da
pastorada. Ambiente perfeito para a direita deitar e rolar na Igreja. Portanto,
a Reestruturação deu certo, certíssima! Objetivo alcançado! Como constatou a
reunião oficial da Igreja em 2007, onde só os a favor foram convidados para
aplaudir.
Se alguém não
concordar com isto que mostre o ímpeto missionário da Igreja; a empolgação em dinamizar
as atividades internas na Igreja e a nível ecumênico para que a IECLB seja uma
Igreja de Jesus Cristo no Brasil engajada a partir da realidade do país e da
América Latina ativa no processo revolucionário de construção de uma nação
livre, independente, soberana com democracia popular para a defesa
intransigente da vida de toda a criação de Deus; a sua voz e atuação profética
por meio de sua participação ativa e massiva nos partidos de esquerda, nos
movimentos populares, no movimento sindical e ONGs sérias e o crescimento
numérico da Igreja fruto da sua atuação missionária diaconal a partir do
empobrecidos (Mt 25; Mc 6.34-44; Lc 4; 1 Co 1.26-29), que são a maioria esmagadora
de nosso povo luterano. Tudo isto consta na teologia dos documentos teológicos oficiais
da IECLB. O único e ‘pequeno’ problema é que se algum pastor se arriscar a executar
a risca na prática a teologia oficial da IECLB, segundo estes documentos
teológicos oficiais, ele se verá em maus lençóis na paróquia e será avaliado
negativamente e não terá o TAM renovado, se não for expulso antes da Avaliação
e ninguém, nem o Pastor Presidente, poderá revogar esta situação. Tal é o poder
ditatorial da pequena burguesia reacionária que controla o poder nas
comunidades, principalmente da cidade, e da paróquia, com suas devidas e
honrosas exceções. Esta situação se acentuou após a Reestruturação da direita
neoliberal da Igreja a partir de 1998. Exemplos não faltam, basta ter ouvidos
para ouvir e querer ouvir.
Diz no texto: “Unidade: Contexto e Identidade da IECLB –
2004”
“A Constituição da IECLB (art. 5º) coloca de maneira clara a
base confessional da Igreja: em primeiro lugar, as Sagradas Escrituras,
compostas do Antigo e Novo Testamentos, seguidas das confissões dos credos da
Igreja Antiga, e, como confissões da Reforma, a Confissão de Augsburgo e o
Catecismo Menor de Lutero. A Constituição também afirma a natureza ecumênica da
IECLB, como vínculo de fé com as igrejas do mundo que confessam Jesus Cristo
como único Senhor e Salvador.
Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB, embora
em nível descendente de importância, são:
a) os documentos normativos (Constituição, Regimento
Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento
Jurídico-Doutrinário – OJD);
b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI,
A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);
c) manifestos e posicionamentos;
d) declarações conciliares;
e) cartas pastorais da Direção da Igreja.
Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a
feição oficial da IECLB.”
Se você é pastor/a da IECLB e não concorda com esta teologia
oficial então sempre tem a Igreja Universal do Reino de Deus ou outras para
você trabalhar. No meu Blog coloco alguns extratos de alguns destes documentos
teológicos da IECLB que você pode acessar em
http://comocalaravoz.blogspot.com.br/2012/09/a-teologia-da-ieclb.html
se não acreditar no que estou escrevendo. A teologia oficial na prática é uma
peça de decoração na Igreja; por outro lado as leis e normas são executadas,
normalmente, à risca e nada pode ser feito se não se consultar primeiro os
advogados (que em alemão se chama de “Rechts”anwälte) da assessoria jurídica.
Tenho uma forte impressão que no tempo de Jesus havia algo parecido em relação
à interpretação das Escrituras que partia da teologia do Templo de Jerusalém.
Como nos diz Jesus Cristo em Mt 23.15 “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez
feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!”
Igreja que resiste em mudar a sua estrutura e suas normas já
está morta, só esqueceu-se de cair. A Igreja resiste a eliminar as leis
repressivas que podam o Evangelho e massacram a pastorada. Igreja que não ouve
seus pastores que estão na base e não faz uma leitura constate desta realidade
da base está cimentada e não é fermento na massa, é massa de uma construção que
secou e enrijeceu. Não serve ao Evangelho, serve ao capital, que é coisa do
diabo. A dinâmica do capital está dando a linha teológica na igreja via pequena
burguesia conservadora que dirige as comunidades e paróquias e impede que o
Evangelho seja fermento porque impede a teologia da IECLB ser concretizada na
Igreja. Igreja que só olha para seu umbigo está na UTI, o JorEv Luterano é
sinal desta internação na UTI, só fala do umbigo e não do corpo todo que é a realidade
do povo brasileiro. Se não sairmos da UTI vamos morrer, é só questão de tempo.
Estamos condenados a sermos mortos-vivos, zumbis.
Temos que reler e estudar novamente os documentos que contém
a teologia oficial da IECLB para não morrermos. A teologia oficial não é
conhecida pelos membros e nem pelos pastores. Tem que ser estudada na EST e nas
COs nos sínodos. Por que não se estuda a teologia da Igreja? Porque a maioria
não concorda com ela porque nos questiona em nossa prática alienante na paróquia.
Analise se nossos grupos nas comunidades (OASE, Legião, etc)
estão inseridos no processo de luta do povo brasileiro em direção à esta nova
sociedade que Jesus Cristo chama de reino de Deus ou se servemà si mesmos e
reproduzem a ideologia dominante. Tem grupo de OASE que não empresta “sua”
louça nem para o grupo de JE poder fazer uma janta de confraternização.
Precisamos nos desamarrar do medo que grassa no meio da
pastorada. Isto se faz 1º com clareza teológica e 2º com a liberdade dada pela
instituição para que se possa pregar livremente o Evangelho. Uma Igreja na qual
reina o medo de pregar livremente o Evangelho que liberta da opressão deste
mundo (o capitalismo) está em sérias dificuldades e seriamente doente. A
instituição tem que garantir a liberdade de pegar o Evangelho dentro dela ao
menos, pois para fora se entende que o mundo não quer esta mensagem e vai
perseguir quem a prega. Então esperar repressão de fora da Igreja é normal e
entendível, no entanto, não se entende (entender a gente até entende) e não se
admite se a repressão vem primeiro de dentro da própria Igreja, a partir de sua
base e a partir de suas leis estruturais.
O Evangelho é insurgente e revolucionário por isso os grupos
existentes e as lideranças das comunidades normalmente não admitem que o
Evangelho seja fermento. Evangelho desestabiliza, não cimenta. A teologia da
IECLB é fermento guardado nos documentos arquivados e empoeirados em nossas
prateleiras. Para fornecer a oportunidade de leitura e estudo de alguns
documentos teológicos oficiais eu pus a grande maioria, não todos, no meu Blog
http://comocalaravoz.blogspot.com.br/2013/12/alguns-documentos-teologicos-oficiais_2558.html.
Temos que desarquivar estes documentos teológicos e torná-los prática
comunitária inserida nas lutas por vida do povo brasileiro massacrado pelo
capital. Nossas comunidades fazem parte deste povo brasileiro explorado, pois
mais de 90% de nossas famílias membros são da classe trabalhadora, mas a baixa
classe média manda nas comunidades e impõe a “sua teologia” e impede a teologia
da IECLB ser fermento na massa.
A Direção da Igreja é uma das instâncias responsáveis para
desarquivar a teologia oficial da IECLB e viabilizá-la para torná-la fermento
insurgente nas comunidades inseridas na vida e lutas do povo brasileiro em
direção à esta nova sociedade igualitária de irmãos/ãs que Jesus Cristo chama
de Reino de Deus, construído por Deus em oposição ao capitalismo e à teologia
do deus capital.
Construir comunidade na IECLB é construir o Reino de Deus na
medida em que a comunidade é fermento insurgente e revolucionário na massa da
realidade brasileira. Construir comunidade é se inserir nas lutas do povo
brasileiro e não fugir delas porque a pequena burguesia não o permite porque
isto desestabiliza o capital. Fazer análise da estrutura e conjuntura eclesial
vai revelar esta realidade eclesial subordinada ao capital e não a serviço do
Reino. A estrutura da Igreja não pode ser determinada pela ideologia do
capital, mas pela prática dinâmica do Evangelho do Reino de Deus inserida nas
lutas do povo brasileiro, pois somos Igreja de Jesus Cristo no Brasil e
não na Lua ou em Marte.
A partir do batismo e da fé cada cristão é um revolucionário
insurgente que participa na construção do Reino de Deus e com isto ele luta
contra o reino do mundo, o capitalismo. Quem participa da construção do Reino
de Deus (pois foi marcado pelo batismo para esta tarefa) não pode defender como
forma única de se organizar a vida a proposta do inimigo. Nesta esquizofrenia
vivemos na Igreja. Confessa-se Jesus Cristo como único Senhor e canta-se hinos
de glória à Deus, mas diz-se que não há outra forma de se organizar a vida e a
sociedade além do capitalismo. Não apenas se diz isto como se vive isto e ai
do/a pastor/a que disser o contrário! Aí a chibata da Casa Grande estala! A Senzala
não tem nada de contradizer a fala da Casa Grande.
Nossa dificuldade eclesial é na verdade histórica, pois a
IECLB surgiu do processo de acompanhar as famílias luteranas alemães no Brasil
dentro da política imperialista alemã do Alldeutschtum (o pangermanismo, principalmente a partir de 1871) e não para
participar da transformação desta realidade na qual foram jogadas no Brasil
pela dinâmica excluidora do capital internacional. Aí a partir de 1970, a
partir de nossa ingenuidade sincera, fomos apenas acompanhar as famílias
luteranas na Amazônia e não para lutar contra a realidade do capital que ali se
instalava usando este povo como “boi de piranha” do capital. Estamos há 190
anos “acompanhando” os membros sem nos inserir e nos insurgir contra o processo
de sua exploração e opressão para acabar com o capital que é uma exigência do
Evangelho (sempre lembrando, com suas devidas exceções). Até o período de
transição da Reestruturação houve muitas experiências insurgentes na IECLB que
partiam dos Distritos Eclesiásticos e das Novas Áreas de Colonização, mas aos
poucos estas foram minguando, minguando e hoje são pouco expressivas pela
Igreja afora. Ainda as há pela graça de Deus, mas não estão mais na pauta dos
Sínodos e não são mais discutidas nas COs.
Como, por exemplo, a Igreja se posiciona diante da realidade
do agronegócio (que é um nome mais bonito para o latifúndio produtivo aliado à
indústria) do qual nosso povo está inserido (produzindo carne, grãos e fumo) e
está sendo explorado por ele? O agronegócio é a forma de ser do capital no
campo. Como vamos clarear isto para o nosso povo que está sendo “embretado” por
ele? A pequena burguesia que dirige as comunidades, principalmente nas cidades,
não quer que se clareie a realidade opressiva do capital no qual nosso povo
está “embretado”. Temos muitos exemplos onde no Conselho Paroquial se disse que
não se fala de sem terra e de índio na paróquia e o/a pastor/a para ter o que
comer tem que acatar a “ordem do capital”, pois a instituição não lhe dá
garantia na pregação livre e reta do Evangelho. Se não se submete vai para a
rua via Avaliação e TAM e a instituição não garante o enfrentamento com os
representantes do capital na comunidade. Assim a Igreja não está em movimento,
mas está morta circulando ao redor de seu umbigo. Em movimento significa estar
inserido no processo revolucionário do país. Somos, como Igreja, fermento e não
cimento. Na verdade somos que nem bezerro amarrado num poste que só consegue
pastar em círculo conforme o comprimento da corda (quem ainda diz e define qual
o comprimento desta corda são os representantes do capital do local). Não vejo,
no momento, algum movimento para se romper com este círculo de dominação capitalista
existente sobre e dentro da Igreja. Tá todo mundo encagaçado!
Só tem uma coisa que a história da humanidade tem mostrado:
os períodos de opressão também acabam; os exílios também acabam. Demoram (já
estamos há 20 anos neste processo), mas acabam. Até acabar este processo
regressivo muita gente ainda vai ser moída no moedor do sistema eclesiástico
vigente dominado pelo capital. Por enquanto não há misericórdia, sem fazer
prisioneiros, é a ordem atual na batalha! Os que resistem: Werden alle abgeschlacht!
(estou exagerando de propósito)
Quando analiso e critico a Igreja e sua estrutura então não vejo
nas pessoas da Direção ou da Sr. dos Passos como inimigos. O nosso inimigo é o
capital e não esta ou aquela pessoa na estrutura, pois na paróquia quem defende
a estrutura sou eu, pois tenho que explicar como funciona o Dízimo (que não tem
nada de neotestamentário, mas enquanto existir terá que ser recolhido e não sonegado),
como funcionam as relações de poder nesta estrutura reestruturada, e assim por
diante. Mas a nível de organização na Igreja: APPI, CO, Assembleia Sinodal, etc.
luto para mudar esta estrutura neoliberal e suas leis repressivas dominadas
pelo capital. Tenho convicção que esta estrutura tem que mudar porque virou
cimento e faz o jogo do inimigo do Reino que é o capital, que sempre quer dar a
direção teológica e da prática na Igreja. Temos que clarear como o capital age
na Igreja e denunciar isto e enfrentar nossas contradições e clarear nossas
contradições.
Grupo na comunidade que virou cimento do capital tem que
reestruturar e mudar, se não quer tem que fechar, pois é sinal do capital e não
do Reino. Manter a estrutura da Igreja não quer dizer que temos que nos
ajoelhar diante dos representantes do capital nas comunidades que também vão
galgando os postos dentro da estrutura: Sínodo e Conselho da Igreja. Nossa tarefa
urgente é estudar a teologia oficial da IECLB e por em prática suas propostas a
partir da realidade atual. Isto vai conduzir ao envolvimento direto nas lutas
populares e sindicais. A luta educa. Educação é teoria e prática. Temos que
resgatar a teologia oficial da IECLB para o povo empobrecido da IECLB se
apropriar dela e tomar o poder na Igreja em todas as instâncias. Mas isto é
fomentar a luta de classes na Igreja! gritará a direita capitalista. Como se a
luta de classes já não estivesse presente na Igreja há mais de um século!
No tempo da ditadura civil-militar era presbítero entregando
o seu pastor para o Dops, era membro do presbitério passando informações ao
Dops do que se discutia e como se trabalhava na paróquia, o pastor Sílvio
Meincke ao ser interrogado pelo Dops viu que o agente do Dops estava de posse
de todos os estudos bíblicos que ele havia elaborado e entregue para as
lideranças estudar nos grupos (como isto foi parar nas mãos deste senão via líder
de grupo de estudo bíblico), dizem que até no antigo Conselho Diretor tinha
gente com a carteirinha do SNI, é Conselho Paroquial ainda hoje dizendo: aqui na
paróquia não se fala de sem terra e de índio. Isto por acaso não faz parte da
luta de classes? É tudo conto de fada? Vamos parar com a hipocrisia! A espionagem
não foi inventada pelo terrorista Obama.
Grupo na comunidade que não é missionário está morto, tem
que enterrar! Como se é missionário na realidade brasileira dominada pelo
capital? Não é só trazer mais uma pessoa para o grupo para cimentar esta pessoa
junto, como nos lembra Jesus a respeito dos fariseus em Mt 23.15 “Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um
prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que
vós!” Fazer missão diaconal é se inserir nas realidades locais que são fruto da
conjuntura nacional e mundial do capital. Grupo de comunidade que não sai de
seus muros está cimentado, tem que enterrar! Isto nos lembra João 12.24 “Em
verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer,
fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”.
Jesus escandalizou os “cimentados” fariseus porque apontou
para fora do judaísmo e da teologia do Templo de Jerusalém; quebrou com a
teologia e prática “oficial” da “Religião”. No lugar da “Religião” Jesus Cristo
trouxe o Evangelho insurgente e revolucionário do Reino de Deus que rompe com o
reino do mundo, hoje, o capitalismo. Para poder ter forças para enterrar velhas
práticas tem que ter clareza da teologia da IECLB. Temos três coisas
subversivas na IECLB:
1.
O Evangelho de Jesus Cristo;
2.
A teologia luterana;
3.
A teologia oficial que consta nos documentos
teológicos da IECLB.
Portanto, não está tudo perdido!
Jesus pregou o Evangelho do Reino de Deus nas ruas, no meio
do povo empobrecido. Nós ficamos dentro dos quatro muros da igreja. Temos a
massa, o povo trabalhador na Igreja e não falamos a partir de sua realidade de
classe como Jesus o fazia nas parábolas, discursos e gestos. Insistimos na
pregação truncada do Evangelho falando só da conversão individual e não falamos
da 2º passo que é o engajamento coletivo na construção do Reino de Deus que é a
inserção missionária diaconal na realidade das lutas por justiça e vida de
nosso povo trabalhador, que é membro da IECLB.
A teologia oficial da IECLB fala destes dois passos:
conversão individual e engajamento no processo coletivo, como resposta de nosso
batismo e conversão, no processo de luta pela paz e pela justiça que nos insere
no Movimento Popular, Sindical e Partidos de esquerda. A conversão individual
tem resposta concreta de mudança que muda o coletivo, é só ler com cuidado a
história do Zaqueu, isto que nem estou falando do apóstolo Paulo, que para o
sistema era como uma peste de tanto que incomodava pela pregação e prática
subversiva do Evangelho de Jesus Cristo.
Pregação e vivência do Evangelho do Reino de Deus pressupõe
acabar com o reino do mundo, o que nos insere na revolução contra o
capitalismo, instrumento do diabo. Se não inserir então serve a palavra de
Lutero: “Olha para tua vida. Se não te encontrares, como Cristo no Evangelho,
em meio aos pobres e necessitados, então que saibas que a tua fé ainda não é
verdadeira, e que certamente ainda não provaste a ti o favor e a obra de
Cristo”. Quer dizer que ter Jesus no coração, como alguns dizem, ainda não
significa nada. Por causa desta inserção o capitalismo vai impor a cruz. O trágico
é que quem 1º impõe a cruz na IECLB não é o capital, mas a própria Igreja via
TAM e Avaliação à serviço da pequena burguesia que é a porta voz e defensora do
capital, reino do mundo, na tentativa de impedir a pregação livre e reta do
Evangelho de Jesus Cristo que aponta sempre para o Reino de Deus que propõe a
revolução permanente para acabar com a organização deste mundo.
Nossas comunidades não se indignam diante das injustiças
sociais que a classe trabalhadora sofre. Indignação e compaixão são sentimentos
evangélicos, pois Jesus disse em Mc 6.34 “compadeceu-se deles, porque eram
como ovelhas que não têm pastor”. J se indignou com o sofrimento e abandono do
povo. João é radical dizendo: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do
diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que
não ama a seu irmão” (I Jo 3.10). nossas comunidades reproduzem normalmente a
ideologia dominante e a própria dinâmica do capital, pois não abre seus
espaços, seus prédios, para o povo que luta: movimento popular, sindical,
partidos de esquerda. Isto é injustificável, pois para o Lions, Rotary, CTG,
CDL, ACI, etc. a igreja cede seus espaços ou porque podem pagar um aluguel ou
porque as pessoas desta organizações também são da diretoria da comunidade. Jc acolhia
os da margem porque ele era da margem, um marginal. Paulo diz em 1 Co 1.28 que
Deus vai reduzir a nada as coisas que são a partir das que nada são diante da e
na sociedade. Deus age a partir da manjedoura e da cruz (da margem) e não a
partir do poder da classe economicamente dominante que se expressa pelos que
controlam os meios de produção e também a ideologia. Não é a ideologia da
classe economicamente dominante que deve dar a direção teológica na comunidade,
mas a teologia que está nos Documentos oficiais da IECLB. A coisa está assim
que o/a pastor/a que se propõe a seguir em seu trabalho a teologia que está nos
Documentos teológicos oficiais da Igreja não tem o TAM renovado e “roda” na
Avaliação. A Direção da Igreja não consegue ver isto ou não quer ver isto, não
sei. O TAM e a Avaliação são mecanismos repressores que a direita enfiou nos
documentos normativos, nós na época não nos damos conta disto, para exatamente
inviabilizar a prática teológica que parte da teologia dos documentos oficiais
da Igreja. Temos que reconhecer que foi uma jogada de mestre da direita, que,
cá para nós, nunca devemos subestimar.
Se a base da IECLB é a comunidade então ela tem que
viabilizar a teologia inerente aos Documentos Teológicos oficiais da Igreja e não
impedir a viabilização prática desta teologia e a substituir pela ideologia do
capital que o Manifesto Chapada dos Guimarães denuncia e exige que se renegue. O
papel da Direção da Igreja é viabilizar na prática comunitária a teologia
oficial da Igreja que está nos Documentos Teológicos e Normativos aprovados em
Concílio e pela Direção da Igreja.
Se a pastorada não se insere e não participa dos movimentos
populares, sindicais e partidos de esquerda não estarão participando de espaços
importantes do Reino de Deus em construção e terão uma teologia limitada e
limitante capacidade de ler a realidade brasileira e com isto atrapalharão a
construção coletiva do Reino de Deus feita por parte da Igreja, o que aumentará
a alienação política da pastorada e consequentemente dos membros com sérios
prejuízos à teologia e sua viabilização na Igreja.
Ou a Igreja enfrenta a pequena burguesia, a serviço do
capital, que manda nas comunidades e paróquias ou estará condenada a vender o
Evangelho para sempre. Pelo Regimento Interno da Igreja a pastorada tem a
função de dar a direção teológica na paróquia por isso a Igreja tem que ajudar
a libertar a pastorada do controle ideológico da pequena burguesia. Isto se faz
com clareza teológica a partir dos Documentos teológicos oficiais da Igreja;
agora, se o Conselho da Igreja, que deve zelar por esta teologia, não concorda
com a teologia expressa nestes documentos então estamos realmente perdidos!
A pastorada com os membros tem que estudar estes documentos
teológicos oficiais para destronar a pequena burguesia do poder das comunidades
e paróquias que impedem a viabilização na prática da teologia da Igreja. a
pequena burguesia, em sua maioria, não vamos conseguir convencer que a teologia
da IECLB é evangélica e luterana e parte vai cair fora, mas vamos continuar a
sermos fiéis ao Evangelho de Jesus Cristo. A opção é Jesus Cristo ou a pequena
burguesia; a Igreja em que optar com quem quer ficar e a quem quer ser fiel. Temos
que ler e estudar bem o Manifesto Chapada dos Guimarães. O TAM e a Avaliação
são os instrumentos perfeitos para encagaçar a pastorada e perpetuar no poder a
pequena burguesia reacionária na Igreja. É traição ao Evangelho não acabar com
estas leis repressivas.
A pequena burguesia e sua ideologia/teologia também está nos
Conselhos Sinodais e no Conselho da Igreja, pois são os representantes
escolhidos da base comunitária que participam das Assembleias Sinodais.
Você dirá: na minha paróquia a pequena burguesia não manda
na linha teológica. Pode ser que na sua paróquia, não, mas nas outras 90% das
paróquias, sim; ali ela impõe a sua teologia legitimadora da dinâmica do
capital internacional (expressa no campo pelo agronegócio e que se estende para
a cidade pela agroindústria) que impede que se acolha os diferentes, os
explorados, os oprimidos e não quer sair de seus muros e impede que a Igreja seja
missionária-diaconal.
A contradição na Igreja é esta: quem defende a teologia
oficial da IECLB não é bem visto nas paróquias e na Igreja toda, pois tem
cheiro de subversivo e parece que destoa do geral e corre o risco de não ter o
TAM renovado e por causa de sua prática teológica pastoral, que inclui fazer
assessoria e participar do movimento popular, sindical e dos partidos de
esquerda, não é bem avaliado na Avaliação. Não vejo a Direção da Igreja
insistir em encaminhar as propostas conciliares que são frutos da teologia
oficial no geral, com algumas exceções.
Não sei se os documentos teológicos oficiais da Igreja são
estudados na EST, FLT e Fatev e nem sei se são critérios para o exame que os
estudantes prestam antes de serem enviados às paróquias.
O que sei é que a Ditadura do Capital perpassa e transpassa
toda a sociedade, também a Igreja, temos que ter claro isto para combatê-la. Temos
que deixar claro que o capital é obra do diabo que procura cooptar a Igreja
para seu projeto de exploração, de opressão e de morte. Uma análise do
capitalismo vai mostar isto e uma análise eclesial vai mostrar como ele
perpassa a Igreja. Talvez, por saber isto a Igreja não faz análise de estrutura
e de conjuntura da realidade e da própria Igreja para que isto não seja
evidenciado e combatido, além de se “esquecer” os Documentos Teológicos
Oficiais da Igreja. A Igreja hoje no capitalismo faz o papel que no tempo de Jesus
Cristo fazia o Templo de Jerusalém: legitimar o sistema econômico vigente. Por isso
o Templo prendeu Jesus Cristo e o condenou à morte por “heresia”, pois a
pregação do Evangelho do Reino de Deus é subversão a todo sistema econômico
explorador e opressor.
A função da Igreja é ser Evangelho e não Religião, pois a
Religião historicamente teve a função de legitimar o sistema econômico
construído em cima de classes sociais antagônicas. A Religião é aparelho
ideológico do Estado; o Evangelho é insurreição à este Estado, à esta Religião
e à esta economia classista que é a base do todo.
Já que você conseguiu ler até aqui ainda vai conseguir ler o
resto. Apresentei o texto abaixo em outubro de 2010 como meditação no Conselho
Paroquial de Condor quando estavam reunidos para escolher o novo pastor/a para
a paróquia (entreguei o texto por escrito para todas as pessoas para poderem
acompanhar a leitura e levar para casa para reler e conferir os textos bíblicos
citados) e no final perguntei se o Conselho Paroquial escolheria este pastor
com este perfil. As pessoas se remexeram nas cadeiras, olharam para baixo e
deram uma risadinha amarela e foram muito sinceras e disseram: Não.
Apresento
o currículo do novo Pastor/a para a paróquia.
A sua
Proposta de Trabalho baseada nas Sagradas Escrituras:
Propõe-se ensinar o Evangelho do
Reino de Deus (Lc 16.16) para fazer o povo se revoltar subvertendo a velha ordem
(Lc 23.2,5), baseada na injustiça, na violência e na desordem estabelecidas pelo
capitalismo, para construir a nova ordem do Reino de Deus e vai pregar e falar
para o povo não se conformar com este século (Rm 12.2) (com o capitalismo) e
começar a construir, a partir da fé em Jesus Cristo (Ef 2.8), junto com o povo organizado
e oprimido e seus aliados, uma nova sociedade (II Co 5.17), em oposição ao capitalismo,
com as características que o Evangelho do Reino de Deus propõe (At 2.42-47;
4.32-37; Mt 11.4-6; Gl 3.26-29; Gl 5.1); vai questionar e anular o sistema
tributário brasileiro onde os pobres pagam mais impostos que os ricos (Lc 23.2);
vai ajudar a organizar os sem terra e os filhos/as dos pequenos agricultores
para lutar pela reforma agrária e por uma política agrícola justa (Mt 5.5; Lc
4.18-19; Lv 25.8-17); vai insistir com todos para estudar as Sagradas
Escrituras (II Tm 4.1-4; At 17.11) em cursos e seminários e exortá-los a viver
segundo o Evangelho de Jesus Cristo e não segundo as propostas do deus capital
(Mt 6.19-21; Ex 32.1-8); vai insistir para se “Renegar a ideologia que dá
suporte à acumulação e concentração de riqueza em benefício de minorias e em
detrimento do atendimento das necessidades básicas do ser humano e da
manutenção da boa criação de Deus. Renegar a adoração do capital e da religião
do consumo como definidora do sentido da vida.” (Manifesto Chapada dos
Guimarães); não vai “atender” só os nossos membros da IECLB (Lc 4.43), mas vai
conviver com a “ralé” (Lc 6.20-21; 15.1-2) acolhendo-a de braços abertos (Lc
15.20,32) trazendo-a para dentro da comunidade, para torná-los cidadãos (Ef
2.13-22): índios, caboclos, afro-descententes, sem terra, diaristas, desempregados,
sacoleiros, ambulantes, sem teto, favelados, indigentes, mendigos, meninos e meninas
de rua, estrangeiros, barrageiros, ribeirinhos, soropositivos (aidéticos), drogados,
prostitutas, homossexuais, travestis, lésbicas e a massa sobrante e
prescindível (Lc 14.21-24; 16.19-31) de nossa sociedade.
Este pastor é estrangeiro, não é
ariano de descendência alemã, nem loiro de olhos azuis; é moreno, barbudo e não
sabe falar alemão; não toca instrumento musical, não sei se sabe cantar bem para
puxar os hinos no culto; sempre se apresenta vestido pobremente e sempre anda
com os pés sujos e suados e as sandálias empoeiradas pela caminhada por caminhos, atalhos, ruas e becos da cidade (Lc 14.21-23); gosta
de uma festa e tem fama de ser “um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos
e pecadores!” (Lc 7.34); não vai fazer o “show da fé” no culto e nem vai contar
estorinhas e mensagens românticas de autoajuda tiradas da internet para
entreter o povo acomodado e entediado que vem participar dos programas da
comunidade para passar o tempo ou para cumprir com sua “obrigação religiosa” para
com esta igreja que para ele, na prática, é apenas uma “Associação Cultural e Recreativa
com fins Religiosos”; mas a sua proposta vai trazer a perseguição (Mt 5.10-11),
a prisão (At 26.10; II Co 6.4-10), a tortura (Hb 11.35-38) e a cruz para os
membros (Mt 16.24; Ap 6.9-11; I Co 1.18-25).
O
perfil deste Pastor chamado Jesus:
O Novo Testamento mostra Deus
tornado pessoa em Jesus de Nazaré (Fp 2.5-11; II Co 8.9) numa estrebaria fora
da cidade (Lc 2.7), como pertencente à classe camponesa, palestino, galileu (Mt
21.11; Mt 26.69), vassalo, súdito e tributário de Roma (Lc 2.1-2; Lc 3.1-2; Mc
12.13-17), mas sem cidadania romana, trabalhador braçal não qualificado (tekton
= carpinteiro - Mc 6.3), sem terra, empobrecido (Lc 9.58), peão, bóia-fria,
bastardo (Mt 1.18-25), sem teto (Mt 17.24-27 – morava de favor na casa de Pedro),
leigo, asiático, migrante (Mt 4.23-25), subversivo (Lc 23.2,5), amigo de publicanos,
pecadores (Lc 15.1-2), viúvas (Lc 7.11-15), leprosos (Lc 17.12-19) e
prostitutas (Lc 7.36-49), vivendo na margem da sociedade (Mc 1.45) e com os
marginalizados pela Lei (Jo 9.28-34; Jo 7.49: “Quanto a esta plebe que nada
sabe da lei, é maldita”.), pelo Templo (Mt 21.12-13), pela economia e pela
política; tendo também, ainda por cima, como discípulos: mulheres (Lc 8.1-3; Mc
15.40-41).
“Então, os principais sacerdotes
e os fariseus convocaram o Sinédrio; e disseram: Que estamos fazendo, uma vez
que este homem opera muitos sinais? Se o deixarmos assim, todos crerão nele;
depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação.
Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os,
dizendo: Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem
pelo povo e que não venha a perecer toda a nação. Ora, ele não disse isto de si
mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para
morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só
corpo os filhos de Deus, que andam dispersos. Desde aquele dia resolveram
matá-lo”. Jo 11.47-53.
Você acha que o Conselho Paroquial vai
convidar este pastor com esta proposta e este perfil para trabalhar na
paróquia?
Que pastor/a
as comunidades da IECLB querem?
Segundo o que diz, com sarcasmo, Martim
Lutero: “O pregador, como o mundo agora o quer, deve ter as seis
seguintes características: 1. ser erudito; 2. ter boa pronúncia; 3. ser
eloqüente; 4. ter boa aparência, para ser amado pelas mocinhas e senhoritas; 5.
não aceitar, mas ainda por cima distribuir dinheiro; 6. falar aquilo que o
pessoal quer ouvir”.
Numa segunda
lista mais “positiva” Lutero diz: "Um bom pregador deve ter as seguintes qualidades
e virtudes. Primeiro, deve saber ensinar direito e corretamente. Segundo, deve
ter boa cabeça. Terceiro, deve ser bem articulado. Quarto, deve ter boa voz.
Quinto, boa memória. Sexto, deve saber parar. Sétimo, deve estar certo do que
fala e ser aplicado. Oitavo, deve investir na sua tarefa o corpo e a vida, os
bens e a honra. Nono, deve saber aturar o desprezo de todos".
O pastor tem
que agradar aos membros ou a Deus? Dá para agradar aos dois? O que os membros
querem é o mesmo o que Deus quer? O que Deus quer? O que os membros querem? O
pastor tem que prestar contas à quem? À Deus ou aos membros? Primeiro à Deus
depois ao Conselho Paroquial. Os critérios de avaliação do Conselho Paroquial frente
ao pastor são as opiniões dos membros, as suas próprias ou as prioridades do
Evangelho de Jesus Cristo ou tudo junto? Que peso as prioridades do Evangelho de
Jesus Cristo tem na avaliação da proposta e do trabalho do pastor/a?
Quais são as
prioridades do Evangelho de Jesus Cristo e da Bíblia?
Jesus diz qual é a sua missão em
Lc 4.43: “É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às
outras cidades, pois para isso é que fui enviado” (Mc 1.15; Mt 4.17) e em Mt
6.33 Jesus nos convida a participar de sua missão: “buscai, pois, em primeiro lugar,
o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Jesus
mostrou a justiça do Reino de Deus colocando os que não podem se defender por
si só em destaque no meio da roda e da discussão: a criança (Mt 18.1-5), o
doente (Mc 3.1-6), o estrangeiro (Lc 10.25-37), a viúva (Lc 18.1-5), o
empobrecido (Lc 16.19-31), os publicanos e pecadores [os considerados impuros]
(Mt 9.10-13), os pequeninos (Lc 17.2; Mt 11.25-27; Mt 25.40) para que a sua
situação de opressão e sofrimento seja afastada e tenham vida abundante (Jo
10.10). Com isto Jesus mostra que ele é o Deus encarnado que já no Êxodo 3.7-8
diz: “Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor
por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a
fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma
terra boa e ampla, terra que mana leite e mel”. O AT (nos sete primeiros livros
da Bíblia) fala que Deus anda com os hebreus sem terra escravos e os guia e os
orienta na luta pela conquista da terra e na sua luta contra o Estado (Nm
20.14-21; Js 6-8; Dt 6.20-23), que é um instrumento da classe economicamente
dominante para manter os seus privilégios e o seu poder (I Sm 8.10-18). Nos
livros e textos proféticos Deus denuncia a classe economicamente dominante e o
Estado por sua prática de opressão e espoliação praticada contra os pobres e os
camponeses (Is 1.21-23; Mq 3.1-12; Am 2.6-8; 8.4-6). Cabe, pois à Igreja os papéis
de denúncia e de anúncio profético, gostem os membros ou não, (ler o Manifesto
de Curitiba, o Manifesto Chapada dos Guimarães e as decisões e mensagens conciliares
dos anos 80) contra toda e qualquer situação que coloque pessoas em situação de
desigualdade, injustiça e risco de ter a vida diminuída ou ameaçada ou coloque
a criação de Deus em
risco. Portanto, participar da Igreja de Cristo não é apenas
batizar, confirmar, participar de alguns cultos ou festas e ter uma celebração
de enterro cristã, mas é ter um compromisso ativo (Tg 2.26) com a construção
desta nova sociedade que Jesus chama de Reino de Deus, como contraproposta de
Deus à atual sociedade capitalista, que a Bíblia chama de “o mundo” (Tg 4.4) ou
“este século”.
A partir da fé em Jesus Cristo e pelo
batismo somos todos irmãos/ãs (Mt 23.8; Jo 20.17; I
Jo 3.17), portanto, iguais (Gl 3.28), por isso lutamos contra as desigualdades
em nosso país (Is 5.8; Mq 2.1-2), somos amigos (Jo 15.12-15) e concidadãos (Ef
2.19) do Reino de Deus. João é radical dizendo: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do
diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que
não ama a seu irmão” (I Jo 3.10). Praticar a justiça é defender quem não pode defender-se
por si só (Tg 2.5-7). Isto significa defender empobrecidos, crianças, mulheres
agredidas e ameaçadas, sem terra, sem teto, atingidos por barragens, desempregados,
pessoas com deficiência, idosos, os que estão em trabalho informal, perseguidos
políticos e a própria natureza agredida em sua biodiversidade por desmatamento,
agrotóxicos, poluição, lixo, aquecimento global, etc.
No Dia do
Juízo Final Deus vai perguntar ao pastor/a se ele pregou pura e retamente o
Evangelho (Hb 4.12) e administrou corretamente os sacramentos ou se só falou o que
a direita permite e evitou falar de certos assuntos que alguns membros não
querem que neles se toque porque isto agride os seus interesses econômicos, políticos
e à sua ideologia e com isso não defendeu quem não pode se defender por si só.
A mesma pergunta Deus vai fazer à todos os membros da Igreja, porque também
eles foram ordenados sacerdotes e sacerdotisas no batismo (I Cor 9.16 lembra:
Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!).
Qual a
tarefa da Igreja (membros e pastor)?
As Prioridades da Igreja de Cristo.
Mas agora,
sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para
todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram
e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Rm 3.21-24.
Segundo as
Escrituras Sagradas as prioridades da ação da Igreja de Cristo são:
1ª prioridade da ação eclesial: é a
tarefa da proclamação evangélica profética (I Co 14.1-5) de que a pessoa e
toda a sociedade são e permanecem pecadoras (Mc 1.15), apontando os seus
pecados individuais e coletivos, e de que Deus justifica, salva e recria a pessoa
e a sociedade arrependida (Rm 1.16-17) pela mediação verbal (Mc 2.1-12; Mt 9.22;
Mt 18.15-17; Lc 17.3-4), e também, pela mediação palpável e degustável dos sacramentos
em meio a comunidade (Mt 28.18-20; Mt 26.26-28);
2ª prioridade da ação eclesial: é a explicação e o estudo do
significado do sacerdócio geral de todos os crentes com a comunidade, consequentemente
também o ensaio e a execução, na própria comunidade, do sacerdócio das
pessoas que creem (I Pe 2.5,9) e foram batizadas, e, por isso,
exercitam o sacerdócio comum (de todos os batizados crentes), mútuo (um é
sacerdote para com o outro) e em conjunto (toda comunidade tem o ministério
sacerdotal via batismo: o ministério da
reconciliação - II Co 5.18-19);
3ª
prioridade da ação eclesial: é toda luta por justiça em favor da
construção desta nova sociedade que Jesus chama de Reino de Deus em que nós nos
engajamos a partir da fé em
Jesus Cristo (Fp 2.5; Mt 25.31-46). Este Reino de Deus já
começou (Lc 17.21), mas ainda não está completo e o será apenas na volta de
Cristo no Dia do Juízo Final (II Pe 3.1-13; Ap 20.11-15).